Somos contraditórios por natureza, mas a ideia de quebrarmos certas regras que estabelecemos, nos assusta. Por exemplo: Eu gosto de assistir filmes antigos, principalmente pela qualidade editorial dos roteiros, pela excelência e carisma dos atores, pelo enredo, pela direção impecável, e por aí vai. Já por outro lado, fico apavorado em assistir series antigas (antigo, para uma serie, são dois anos ou mais), pois com a velocidade da informação, tomamos conhecimento dos defeitos dos atores e atrizes que são protagonistas, sabendo que alguns deles já estejam mortos, ou que cometeram deslizes morais e estão encarcerados, ou que sucumbiram nas drogas e alcoolismo, ou simplesmente porque em outra serie, foram vilões execráveis, e isso não os encaixa na figura dos herois bonzinhos que nos mostram seus trabalhos anteriores, e mesmo que saibamos que é tudo ficção, temos a humana tendência de associar a embalagem ao produto, tipo: se um tubo é parecido com pasta de dente, por que raios, colocam patê detro dele? Ou se uma garrafinha armazena azeite, por que outra quase idêntica é recipiente de vinagre? E o que dizer dos detergentes, que se não tomar cuidado, vai lavar a louça com água sanitária perfumada. Assim são os amigos imaginários que recolhemos dos filmes e das series que assistimos.
Quem sera fosse tudo tão simples assim, o que não é, pois de uns tempos pra cá, tive o ímpeto, após permabular pelas milhões de opções, geralmente reduzidas a poucas dezenas pelo algoritmo que acha que nos conhece, e insiste em nos oferecer algo parecido com o que ja vimos; Ora! Se estamos acostumados a comer espaguete à bolonhesa, no nosso restaurante preferido, por que catimbas, o garçon não nos oferece aquela chuleta com farinha, quando pedimos o cardapio? Claro, usei o garçn, porque foi o primeiro dos continuístas que veio à memória, mas assim é o algoritmo, que é a antítese da criatividade, aliás, felizmente, pois no dia em que descobrirem um algoritmo criativo, babau, já era, não somos mais úteis. Assim, se maratonei a serie "Monk", imediatamente fui procurar a serie "O Mentalista", bem parecida, na origem: dois detetiveis, um aparentemente abilolado, mas absurdamente genial, outro, que se faz de abilolado, e esnoba genialidade, viúvos, cuja missão de vida de ambos, é descobrir o assassino de suas esposas, e o roteirista o faz, de forma tão sensacional, em que cada episódio seja único, mas deixe e busque ganchos entre os demais episódios, em que personagens entram e saem, voltam, somem, e aparecem novamente, e mesmo assim, em cada um deles, haja expectativa e desfecho inteligente. Assim são os contraditórios! Assim,temperamos nossa existência, em buscas que terminam, muitas vezes, antes que comecem, e habitam unicamente em nossas mentes, no espaço mais secreto delas, para que não sejamos tomados por loucos, sonhadores, imbecis, e no medo do que os outros possam pensar de nossos contraditos, deixamos de explorar, pelo contraditório, as respostas e mistérios que a vida nos oferece.
O contraditório é muitas vezes confundido com convite pra briga:
- "Você não gostou da minha proposta, porque me odeia!"
- "Não odeio você, mas também não sou obrigado a engolir os abusrdos que diz!"
Ora, são apenas leituras de ângulos opostas, como os israelitas recitando as bênçãos e as maldições da Torá, diantes dos Montes Ebal e Gerizim, um de costas pro outro, o mesmo povo, mas o que estava diante de um dos montes, recitava as maldições, e o que se voltava para o outro monte, recitava as maldições, demonstrando que bênção e maldição nunca podem estar juntas, olhando na mesma direção. Isso é o contraditório que uso nas minhas ponderações, e é por esta razão, que O Criador nunca dá respostas, mas levanta perguntas, e como sempre são perguntas retóricas, coloca como primeiro conselheiro do interlocutor, o contraditório, pois assim como na ciência, que não existe Síntese, sem Tese e Antítese, a tese e a antítese da vida são precisamente estes contradiórios que tanto tememos.
Voltando então às series, o meu receio é de me afeiçoar aos personagens, e num relâmpago de pensamento, lembrar que aquele ator não vive mais. Isso aconteceu recentemente com uma serie que eu gostava demais, "A grande familia", e uma das minhas personagens favoritas eram a "Bebel", vivida pela atriz Guta Stresser, que descansou recentemente, e outro, era o "Agostinho", personificado pelo ator que, recentemente vi um video onde ela, a Guta Stresser, queixou-se de que foi extremamente maltratada por este ator, gratuitamente, humilhada, num lampejo de vedetismo dele, e se ouvirdmos as histórias de muitos atores, vamos descobrir a podridão de suas vidas pessoais, aí entra a pergunta que fazia um velho Pastor nosso, Dr Siegdfrid Hofmann:
- Estes atores e atrizes, que interpretam personagens bíblicos de tamanha relevância e santidade, tem um mínimo de caráter para personificar tais personagens aos espectadores, considerando que sua atuação pode influenciar milhões de almas, para o bem ou para o mal?
Bem verdade é que precisamos ter maturidade suficiente para compreender este cotraditório, de que uma coisa é o ator, a pessoa, e outra coisa, é seu personagem, ao qual empresta alma, personalidade, carisma, ou mau caratismo. Podemos encontrar esse tipo de engajamento entre os atores que vâo ao extremos de sua capacidade intelectual e emocional, ao mergulharem num "laboratório teatral", onde encarnam os personagens, ao ponto de engordarem, emagrecerem, interiorizarem seus traumas, tudo, para que na tela, no video, sejam convincentes o suficiente, e possam ser reconhecidos e receberem premios e ovações.
Os contraditórios não são para os fracos, pois são como correr sobre uma lâmina afiada sobre um penhasco, e além de cortar nossos pés, que são a estrutura que precisamos ter para caminhar com segurança sobre qualquer terreno, tornam-se nossos algozes, ao percebermos que não pensamos mais por nós, mas por influência daqueles que brincam com o contraditório como se brincassem com um prato de gelatina, inebriando-se e a outrem, com suas deibilades invluenciadoras.
Pacard
Escritor, Confuso, e Contador de Causos
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